sexta-feira, fevereiro 27, 2004

Percepções

Dizem que a morte tem cheiro. E eh muito forte. Aqueles que já conviveram com ela e se permitiram perceber sabem do que estou falando. Cheiro indescritível, de algo que não se assemelha a nada no mundo dos vivos. Lembro-me do cheiro de velório. Um odor nada agradável, disfarçado por éter e outras substancias químicas. Um odor de um lugar que não pretendo tão cedo conhecer.

Voltando de São Luís do Paraitinga, de carona com um guincho, já que uma amiga perdeu a chave do carro e teve este rebocado, pude confirmar esta minha percepção numa conversa com o motorista. Vieira atende todo o Vale do Paraíba, rebocando carros quebrados, sem chaves e acidentados. Muitas vezes ele tem que entrar no veiculo, logo após um acidente grave, para destravar a direção, soltar a embreagem e deixar o carro pronto para o reboque. E quando o acidente eh fatal e ele se senta no banco do motorista não consegue se livrar do cheiro da morte. A camisa daquele dia de trabalho vai para o lixo. Disse ele que o odor fica impregnado de tal forma que nem diversas lavadas resolvem o problema. Segundo ele, seus amigos acham que tal historia eh fruto da sua imaginação, que não acreditam nessa persistência do cheiro, que ele esta ficando louco com o tipo de trabalho que leva. Mas eu entendi perfeitamente o que quis dizer...