domingo, fevereiro 12, 2006

Neste Mundo

Hoje resolvi conhecer a obra de Michael Winterbottom. Decidi começar pelo polêmico “9 canções”, que num olhar mais grosseiro pode parecer um porno soft gratuito. Mas observando com mais atenção percebe-se uma interessante estrutura, uma história de amor contada através do sexo (e por que não?!), recheada de cenas de shows que vão de Primal Scream a Franz Ferdinand (sim, aqueles que irão abrir o show do U2 por aqui). A famosa tríade de sexo, drogas e rock n´roll apresenta o relacionamento de um casal que vai se deteriorando: a paixão dá lugar ao amor e logo depois a solidão seguido pela indiferença.

Mas foi o segundo filme do cara que me fez vir até o blog. “Neste mundo” é um lindo on the road movie, uma ficção com pegada de documentário. Camera nervosa, captação digital, por ora granulada, outras escuras. Até um night shot foi usado numa cena, o que não comprometeu nem um pouco a forma. Atores não profissionais contam uma história que se repete diariamente: a dos refugiados, aqueles que sem pátria, vítimas de interesses geopolíticos, procuram um lugar ao sol. Num primeiro momento ele me lembrou aqueles filmes iranianos que particularmente não curto. Ao meu ver, eles tem a narrativa arrastada demais para o meu gosto. Mas essa foi só a primeira impressão. O filme de Winterbottom conta a história de dois moradores de um campo de refugiados afegãos, localizado no norte do Paquistão. Os primeiros refugiados chegaram em 1979 fugindo da invasão soviética em seu país. Os mais recentes chegaram fugindo do bombardeio causado pelos EUA, que começou em 7 de outubro de 2001.

Jamal e o primo vão procurar um tio que resolve ajudá-los a imigrar ilegalmente para a Inglaterra, em busca de melhores oportunidades. Este contrata, então, os serviços de um coyote, que traça uma rota rumo à Terra da Rainha, a famosa Rota da Seda. O filme nos apresenta regiões como norte do Paquistão, o Irã, as montanhas do Curdistão que são atravessadas a pé pelos protagonistas, a Turquia, chegando na Europa, onde a rota segue pela Itália, França e finalmente Inglaterra. Eles andam enormes distancias a pé, viajam de anguna (um caminhão bem popular na Asia e em Timor Leste), em ônibus coloridaços (os bus – bis – de Timor), na caçamba de caminhões entre caixas de laranjas e cabritos e também dentro de containers. As diferenças culturais são muito bem exploradas, assim como a difícil situação de um imigrante. Uma bela oportunidade para conhecer um pouco sobre o Oriente Médio: culturas fascinantes, belas paisagens e muita miséria.

O filme mostra ainda liricamente até onde um sonho pode nos levar. Somos envolvidos de tal maneira que sentimos a angústia, o calor e o sacolejar da viagem. Como este nosso mundo é um lugar inóspito, viver nele é estar preparado para o inesperado. Imperdível!