segunda-feira, janeiro 05, 2004

Viajantes x Turistas

Viajantes são livres.
Turistas são livres - no dia livre, das atividades livres.

Turistas têm um destino: siga o roteiro.
Viajantes têm um objetivo: siga a viagem.

Viajantes fazem da Europa uma viagem maravilhosa.
Turistas fazem a viagem "Europa Maravilhosa".

Turistas não necessariamente viajam com muito dinheiro, mas pelo menos viajam com dinheiro.
Viajantes não necessariamente viajam com dinheiro; às vezes viajam, criativamente, sem dinheiro.

Viajantes absorvem o povo.
Turistas absorvem o shopping.

Turistas vão de uma cidade a outra.
Viajantes percorrem de uma cidade a outra.

Turistas num restaurante onde não falam o idioma, se não conseguem pedir um frango com batatas, pedem um bife com cebolas.
Viajantes num restaurante onde não falam o idioma, se não conseguem pedir um frango com batatas, imitam um frango com batatas.

Viajantes querem encontrar outros viajantes.
Turistas querem encontrar um carregador de malas.


Fonte: www.uol.com.br/oviajante

Pierre Verger

“Comecei a viajar, não tanto pelo desejo de fazer pesquisas etnográficas ou reportagens, mas por necessidade de distanciar-me, de libertar-me e escapar do meio em que tinha vivido ate então, cujos preconceitos e regras de conduta não me tornavam feliz”

VERGER, Pierre.
50 anos de fotografia. Salvador: Corrupio, 1982

FILHOS DA LUA

A poucos graus abaixo da Linha do Equador, numa região do planeta extremamente quente, onde o sol brilha com extrema intensidade, um grupo de pessoas sobrevive a todas as adversidade impostas pela mãe natureza. Talvez a Ilha de Lençóis não fosse o local mais apropriado para eles nascerem, mas o destino pareceu traçar e colocar todas as adversidades possíveis na frente dessas pessoas. Como já disse Nieztsche: "Tudo o que não me mata, só me fortalece". E eles são assim, risonhos, intensos e cheios de historias. O fato eh que eles são albinos e o sol não perdoa a pele desses pescadores que precisam ficar expostos por horas a fio em busca de peixes para o seu sustento.

Na década de 80 eles eram dezenas, hoje sobraram apenas alguns para contar historias. O câncer de pele não perdoa e a taxa de mortalidade entre os albinos da ilha eh altíssima. Outros, com a chegada das linhas regulares de barcos, fugiram para o continente em busca de melhores condições de vida.

O que explica essa alta incidência de albinismo eh o isolamento que permaneceu a região ate meados da década de 90, o que propiciou diversos casamentos consangüíneos.

O apelido de Filhos da Lua surgiu pelo fato dos albinos da ilha preferirem as noites de lua para caminhar pelo vilarejo, uma trégua para as peles calejadas pelo sol. E os cabelos loiros e brancos se assemelham muito com a fisionomia dos primeiros jesuítas que falavam um português diferenciado e contavam historias de reis que desapareceram nas dunas, durante sanguinárias batalhas.
Assim os pescadores acharam que os Filhos da Lua fossem, desde a chegada dos primeiros portugueses na região, os descendentes diretos desse tal rei, que no imaginário local deveria ser um tanto quanto diferente.

Lembro-me que numa conversa interessante e instigante com Dona Luzia, uma Filha da Lua e parente de Dom Sebastião, como ela mesmo se designa, ele me perguntou se poderia lhe dar um presente. Achei que fosse pedir dinheiro e ela logo se adiantou:

"Você tem algum creme ou protetor para a pele. Eh que eu tenho uma criança pequena albina e não queria que a pele dela ficasse cheia de feridas como a minha."

Logo me agilizei e fui buscar na minha mochila o único protetor solar que tinha e um pós sol. O restante da viagem, sem proteção para a pele, pude sentir o ardor dos raios solares e imaginar a difícil vida daquelas pessoas. Enquanto minha pele ardia e descascava sentia-me feliz por saber que alguém estava fazendo um bom proveito com aqueles presentes...

O REI ESTA VIVO III

Eh intrigante pensar como a historia de um rei que viveu em Portugal no seculo XVI, tornou-se uma lenda viva, que em pleno seculo XXI instiga o imaginario coletivo de uma ilhota do litoral brasileiro. Mas existem explicaçoes um tanto quanto plausiveis para compreender tal fato.

Dom Sebatiao, rei de Portugal, desapareceu durante as cruzadas contra os mouros na batalha de Alcacer Quibir ocorrida em 1578, no norte da Africa. Como seu corpo nunca foi encontrado, surgiu o mito de que ele continua vivo e a qualquer momento pode reaparecer e retomar seu trono no Palacio de Queluz.

Essa lenda, trazida pelos jesuitas portugueses, atravessou oceanos e se espalhou pelo arquipelago de Maiau, sobretudo na Ilha de Lençois. O tal pedaço de terra repleto de dunas se assemelha geograficamente com o local da batalha, talvez por isso o mito do rei ganhou forças para sobreviver naquele local.

Outro fator que ajudou a perpetuar a lenda sao os Filhos da Lua, certos habitantes da Ilha de Lençois que dizem ser os descendentes diretos de Dom Sebastiao. Mas isso ja eh uma outra historia...